Da raça das vacas

Tem gente chata nesse mundo. Tem gente doida. Tem gente burra. Tem gente cafona. Gente feia. Gente tola. Gente fedorenta. Gente grudenta. Gente puxa-saco. Gente fraca. Gente medíocre. Gente grosseira. Gente agressiva. Gente que é o ó.
Em contrapartida temos:
Gente legal, muito legal. Gente bonita. Gente cheirosa. Gente inteligente. Gente culta. Gente situada. Gente chique. Gente delicada. Gente sensível. Gente amorosa. Gente forte. Gente do bem. Gente adorável. Gente que é tudo.
Dentre essas gentes, bituín essas gentes, encontra-se uma raça muito especial que flutua entre esses dois mundos com tal propriedade que lhes foi dada a posição de seres a quem tudo se releva visto que não podemos viver sem nos misturarmos. Estou falando da classe das vacas.
As vacas tanto podem ser criaturas absolutamente abomináveis com seus peidos fedorentos e mania de ruminar sem parar, como também podem ser as mais doces e sábias criaturas da fauna terrestre. O leite fresco, se mal conservado, se transforma rapidamente em beberagem podre, capaz de matar criancinhas em poucos minutos. O pelo brilhante, se mal tratado, pode virar um emaranhado de bernes, sarnas e carrapatos sem fim. O olhar dócil, se enfrentado, rapidamente vira fúria solta no gramado. As vacas sabem aonde lhes aperta o calo, às vezes deixam-se levar por puro instinto, em outras param e pensam, e pensam, e pensam, e pensam. As vacas não são perfeitas, nem querem ser. Aliás, as vacas detestam a perfeição. Elas sabem que o brejo pode ser surpreendente. Sabem que o mais grosseiro dos touros é capaz de se transformar no mais adorável bezerrinho se assim for levado. As vacas gostam de multiplicidade, mas detestam ser chateadas. Não venham com regras, com receitas, com achismos sem fim. Deixem as vacas em paz. Elas sabem o que querem. E o que não querem.

Mimosa